APARTHEID, UMA QUESTÃO DE DINHEIRO?

O apartheid na África do Sul foi um sistema político de segregação racial instituído oficialmente em 1948 pelo Partido Nacional, que era dominado pela minoria branca do país. Este regime durou até o início dos anos 1990 e classificava os cidadãos em dois grupos raciais, os brancos e os não-brancos, e impunha restrições severas sobre onde cada grupo poderia viver, trabalhar e estudar, além de controlar suas interações sociais.

Os japoneses, durante o apartheid, ocupavam uma posição única no sistema de classificação racial sul-africano. Apesar de serem asiáticos, eles eram oficialmente classificados como “honorários brancos”. Essa classificação não oficial permitia que os japoneses evitassem algumas das restrições impostas a outros grupos não brancos. O motivo principal para essa exceção era econômico: o Japão era um importante parceiro comercial e investidor na África do Sul, especialmente nas áreas de tecnologia e manufatura. Portanto, ao facilitar a vida e os negócios dos japoneses na África do Sul, o governo do apartheid buscava fortalecer esses laços econômicos vitais.

Por outro lado, os indianos, importante minoria especialmente no leste da Áferica do Sul, apesar de também serem asiáticos, eram classificados como “negros” sob as leis do apartheid. Essa classificação colocava-os em grande desvantagem social e econômica comparada aos brancos e mesmo aos japoneses “honorários”. Os indianos enfrentavam restrições severas em termos de moradia, educação, emprego e direitos políticos, similares àquelas enfrentadas pela maioria negra do país. Essa discriminação foi um dos fatores que levaram a uma forte resistência contra o apartheid, inclusive com a participação ativa de líderes da comunidade indiana, como Mahatma Gandhi, que iniciou sua carreira política na África do Sul lutando contra as leis discriminatórias.

A dicotomia no tratamento de diferentes grupos asiáticos reflete a maneira pela qual o regime do apartheid manipulava as políticas raciais para atender a seus interesses econômicos e políticos, muitas vezes de forma inconsistente e contraditória. A luta contra o apartheid finalmente levou à sua abolição nos anos 90, culminando com a eleição de Nelson Mandela como presidente em 1994, em um governo que promoveu a reconciliação e a igualdade racial.