Se você tiver um sanduíche e eu tiver um real, e eu usar meu real para comprar o seu sanduíche, no final da troca eu terei o sanduíche e você deixará com o real. Parece um equilíbrio perfeito, certo? A tem um real, B tem um sanduíche, então A fica com o sanduíche e B com o real. É uma transação justa, mas puramente material.

Agora, imagine uma situação diferente. Suponha que você tenha um soneto de Verlaine na memória, ou que conheça o teorema de Pitágoras, e eu não saiba nada disso. Se você me ensinar o soneto ou o teorema, ao final dessa troca eu terei aprendido algo novo e valioso, mas você ainda continuará com o conhecimento que me transmitiu. Neste caso, não ocorre apenas uma simples troca, mas um enriquecimento mútuo

Na primeira troca, há uma transferência de bens materiais: o sanduíche é consumido, o real é gasto. O que era de um passa a ser do outro e vice-versa, e a proposta se encerra aí. No entanto, na segunda troca, partilhamos algo imaterial: o conhecimento. E, ao contrário das mercadorias, que se desgasta e é finita, o conhecimento não só permanece com quem o compartilha, como também se expande, multiplicando-se ao ser transmitido.

Enquanto as mercadorias são finitas e destinadas a serem consumidas, o saber e a cultura são infinitos, crescendo sempre que partilhados. É essa a mágica do conhecimento: ele não se esgota.

No caso do sanduíche, o ato de consumo encerra seu ciclo; uma vez comido, ele desaparece, deixando apenas uma satisfação momentânea. O euro, por sua vez, muda de mãos, mas seu valor permanece inalterado, fornecido para futuras trocas. Ainda assim, ambas as partes voltam à estaca zero em termos de consumo. Nada a mais foi gerado. A transação de material é um jogo de crescimento.

Por outro lado, o conhecimento transcende essas limitações. Quando você me ensina o soneto de Verlaine ou o teorema de Pitágoras, a informação passa a habitar minha mente sem deixar de ocupar a sua. O ganho é coletivo. Nesse tipo de troca, não há perda, apenas multiplicação: ambos saímos mais ricos, não em bens palpáveis, mas em compreensão, cultura, saber. E esse novo conhecimento, por sua vez, pode ser retransmitido para outros, potencializando ainda mais o crescimento. Cada mente que adquire um novo saber se torna um ponto de propagação, ampliando um ciclo virtuoso que enriquece a sociedade como um todo.

Essa é uma grande diferença entre o mundo material e o mundo do conhecimento. O material é limitado, escasso e, muitas vezes, efêmero. Já o conhecimento, quando compartilhado, se expande e fortalece a todos os envolvidos. Ele rompe barreiras, atravessa gerações e molda o futuro. Enquanto as mercadorias seguem o ciclo da produção, consumo e descarte, o saber se perpetua, constrói pontes e amplia horizontes.

É por isso que, ao promovermos a partilha de conhecimento, alimentamos não apenas a nós mesmos, mas também as gerações que virão depois de nós.