O acaso é um fator importante em várias descobertas da ciência. A penicilina nasceu, de um acaso. Alexander Fleming não esterilizou bem sua placa de Petri, e seu estudo com a bactéria Staphylococcus aureus foi contaminada com fungos do gênero Penicillium, que criaram zonas brancas numa cultura amarela.

Num fim de semana de Páscoa invulgarmente movimentado, em 1982, no Royal Perth Hospital, na Austrália, um jovem médico esqueceu-se de verificar as suas placas de cultura bacteriana e deixou-as na incubadora. Como a regra era escartar as placas após 48 de cultura, esse tempo extra mostrou o crescimento de bactérias.

A bactéria em questão era a Helicobacter pylori, descoberta pelos cientistas australianos Barry Marshall e Robin Warren na década de 1980, revolucionou a compreensão das doenças gastrointestinais. Antes de sua pesquisa, acreditava-se que úlceras gástricas e duodenais eram causadas principalmente por fatores como estresse, dieta e excesso de ácido gástrico. Marshall e Warren, no entanto, propuseram que uma bactéria era a verdadeira causa dessas condições.

Para provar suas hipóteses, Marshall tomou uma decisão radical: ingeriu uma bactéria, desenvolvendo posteriormente gastrite, uma condição precursora de úlceras. Esse ato ousado, junto com as extensas pesquisas realizadas pela dupla, levou à acessibilidade de que o H. pylori desempenha um papel central nas úlceras gástricas e duodenais, e também no câncer de estômago.

Em reconhecimento à importância dessa descoberta, que transformou tratamentos e salvou inúmeras vidas, Marshall e Warren receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2005.