A CHEGADA DA CORTE PORTUGUESA AO BRASIL

A vinda de Dom João VI e da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, pode ser interpretada sob diferentes perspectivas, e não há consenso absoluto sobre como caracterizá-la.
Dependendo da visão histórica adotada, o evento pode ser considerado uma fuga acovardada, um ato heroico, ou uma estratégia política. A seguir, vamos detalhar essas interpretações:

1. Fuga acovardada:

Essa visão crítica enfatiza que Dom João VI e a corte portuguesa deixaram Portugal às pressas, fugindo da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte, que marchavam sobre a Península Ibérica em 1807. A decisão de abandonar o país para se refugiar no Brasil é vista por alguns como uma saída covarde, já que, em vez de lutar ou resistir à invasão, o governo português optou por escapar.

A corte deixou para trás um país à mercê das tropas francesas e das forças de ocupação.

Nesse contexto, a fuga é interpretada como uma falta de coragem para enfrentar o inimigo em defesa do território português.

2. Ato heroico:

Por outro lado, muitos historiadores veem a transferência da corte como um ato heroico e visionário, já que foi a primeira vez que uma monarquia europeia se instalou em uma colônia. Ao trazer a corte para o Brasil, Dom João VI garantiu a continuidade da soberania portuguesa, preservando a monarquia e as instituições do país em um novo território.

Em vez de ser capturado ou de submeter-se ao controle de Napoleão, Dom João transformou o Brasil em o novo centro do império português, o que foi crucial para evitar a completa desintegração de Portugal. O Brasil, ao receber a corte, foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves em 1815, e a presença da corte impulsionou o desenvolvimento de infraestrutura, cultura e economia.

3. Estratégia política:

Muitos historiadores veem a transferência da corte como uma estratégia pragmática e política. Dom João VI, aconselhado por sua mãe, a rainha Maria I, e por seus ministros, sabia que Portugal estava em uma posição vulnerável, pressionado entre as ambições imperialistas de Napoleão e o bloqueio comercial imposto pelo Império Britânico.

Fugir para o Brasil, em vez de ser uma simples retirada, foi uma forma de preservar a continuidade do governo, garantir a independência relativa do Império Português e manter o controle de suas colônias. Além disso, a mudança foi realizada com o apoio da Inglaterra, que protegia a frota portuguesa, o que demonstra uma articulação diplomática importante.

No Brasil, Dom João implementou diversas reformas e abriu os portos brasileiros ao comércio internacional, dando início a uma série de mudanças econômicas e políticas que influenciaram a história do país. O ato também postergou o processo de independência do Brasil por mais de uma década, mantendo-o sob o controle da coroa até 1822.

Considerações finais:

O evento pode ser visto de diferentes maneiras, dependendo da ênfase que se dá aos fatos.

Historicamente, não se trata apenas de uma fuga precipitada, pois houve uma série de consequências importantes e planejadas que beneficiaram tanto o Brasil quanto a própria monarquia portuguesa. Assim, pode-se dizer que a vinda da corte foi um ato estratégico, com elementos de preservação do império, mas que também teve um caráter pragmático diante de uma ameaça externa imensa, como as tropas napoleônicas.

 

A esquadra portuguesa nas águas do Rio, em março de 1808. PIntura de Geoffrey Hunt