Lucius Cornelius Sulla foi um dos personagens mais enigmáticos e contraditórios da história romana. Sua carreira é marcada por um paradoxo fascinante: um homem que tomou Roma pela força, tornou-se um ditador e executou seus inimigos sem piedade, mas que, ao mesmo tempo, reivindicou a restauração da ordem republicana.

A “Marcha sobre Roma” de Sulla foi o primeiro caso na história romana em que um general marchou contra a própria cidade, um ato considerado inimaginável então até. Ele instaurou um regime de terror, estabelecendo listas de proscrição que permitiam o assassinato legalizado de oponentes, e se apropriava de suas fortunas, consolidando seu poder e financiando o Estado. Através dessas ações, Sulla buscava eliminar aqueles que, em sua visão, se aproveitavam de Roma.

Em sua breve ditadura, Sulla implementou reformas que redistribuíram o poder político, fortalecendo o Senado e atraindo a influência dos tribunos da plebe, uma tentativa de impedir o surgimento de figuras populares e centralizadoras, como os irmãos Graco. Com um Senado repleto de seus aliados, ele defendeu a devolução da estabilidade necessária para Roma.

Entretanto, com sua renúncia voluntária, deixou o governo.

A retirada de Sulla foi quase um ato performático, e sua morte simboliza uma espécie de tragédia grega — um general que consolidou o poder absoluto e abandonou tudo por uma vida de excessos, deixando Roma em um estado de inquietação que acabaria por culminar no fim da República. Em sua vida, Sulla foi um ditador, um reformador e um hedonista, e seu legado é uma das mais complexas heranças de Roma. Depois de renunciar, retirou-se para o campo com um séquito de atores, prostitutas e dançarinos, e viveu uma vida alegre e embriagada cheia de devassidão, orgias e passando cada hora acordado e não dedicada a prazeres maliciosos escrevendo suas memórias. Morreu dois anos após sua aposentadoria, festejando até a morte.