Existe um lugar na África que é literalmente terra nulius (terra de ninguém). De fato e de jure. E os dois países que fazem fronteira com esse lugar fazem o possível para IMPEDIR sua ocupação.

Essa situação absurda existe entre o Egito e o Sudão, num lugar chamado Bir Tawil.

Para entender essa confusão, temos de lembrar que a fronteira entre o Egito e o Sudão mudou várias vezes durante o período colonial. Originalmente ela não estava demarcada. Em 1899, quando os ingleses concederam “independência” ao Egito, tentaram definir a fronteira como o Paralelo 22, mas nem o povo do Egito nem o povo do Sudão aceitaram esta definição. O Egito a recusou porque ambicionava anexar todo o Vale do Nilo histórico, abrangendo toda a região culturalmente egípcia na antiguidade. O Sudão a recusou porque um importante porto ficava acima do Paralelo 22. Como os dois países estavam tecnicamente sob domínio britânico, durante o período colonial valeu uma “fronteira administrativa” baseada no princípio uti possidetis (a posse é de quem faz uso). Mas a descolonização ocorreu antes de que se consolidasse esse uso.

Vendo que o Sudão seria inevitavelmente um país independente, o Egito abandonou sua reivindicação do Vale do Nilo e aceitou retroativamente o Paralelo 22. Para sinalizar isso, “desocupou” a área branca abaixo dele e invadiu a região acima, acabando com a posse sudanesa do porto de Suakin.

Isso criou uma situação inusitada.

Para o Egito, ocupar a região branca (Bir Tawil) significa rejeitar na prática o Paralelo 22, criando a obrigação de desocupar Suakin.

Para o Sudão, ocupar a região branca significa aceitar o Paralelo 22, abandonando a reivindicação de Suakin.

Então nem o Sudão nem o Egito fazem uso desta terra, de fato ou de jure.

Na prática a região é usada como terra de pastoreio por nômades baseados no Egito, mas o Egito os desestimula fortemente a levar o gado para lá.

Esse é um dos raros lugares do mundo que é literalmente terra de ninguém.