EFEITOS COLATERAIS DO AQUECIMENTO GLOBAL
O aquecimento global está a inundar as regiões costeiras de baixa altitude, mas está a secar o solo em zonas mais interiores. As consequências mais graves são para a agricultura e para os ecossistemas que dependem da humidade do solo, mas estas alterações estão também a mudar a orientação do eixo da Terra.
– Solos mais secos mexem com a rotação da Terra
As temperaturas mais elevadas amplificam a evaporação de lagos e rios e também fazem com que o solo seque mais rapidamente.
Em alguns locais, isto é contrabalançado por um aumento da precipitação, mas é raro. Mesmo onde a precipitação aumentou, tende a ocorrer em eventos mais intensos e espaçados, deixando muito tempo para o solo secar entre eles.
Um novo estudo sobre o fenômeno da perda de água do solo demonstrou que, em apenas dois anos (2000-2002), a humidade global do solo diminuiu em 1.614 gigatoneladas.
Isto não é fácil de visualizar, mas, para comparação, a Gronelândia perdeu 900 gigatoneladas de gelo num período duas vezes mais longo — e exemplos pequenos dessa perda são visíveis.
– Litoral mais húmido, mas interior muito mais seco
A perda contínua de humidade no solo, embora a um ritmo mais lento após 2002, fez com que o eixo da Terra se deslocasse 45 centímetros até 2012.
A crosta terrestre pode ser apenas uma fina camada sobre um planeta maciço, mas ainda assim consegue afetar todo o corpo subjacente.
Se o gelo se acumular num determinado local, especialmente próximo do equador, pode fazer com que o planeta se incline ligeiramente, alterando a direção para a qual o eixo da Terra aponta.
É difícil imaginar que a humidade do solo tenha o mesmo efeito, mas peso adicional é peso adicional, esteja ele em forma líquida ou sólida.
Em 2021, uma investigação mostrou que o eixo da Terra se inclinou mais do que a perda de gelo poderia, por si só, justificar. Concluiu-se na altura que a perda de água subterrânea e de humidade do solo deveria ser responsável pelo restante.
– O que se passa com o planeta?
Agora, um estudo atualizado e expandido chegou às mesmas conclusões, e os autores utilizaram essa informação para investigar a gravidade da seca que afeta o planeta.
Uma quantidade verdadeiramente impressionante de humidade do solo foi perdida entre 2000 e 2002 — muito além de qualquer registo das duas décadas anteriores, de acordo com reconstruções baseadas nos níveis globais do mar antes de começarem as medições diretas.
Desde 2002, a perda de humidade continuou, com algumas flutuações, mas a um ritmo muito mais lento.
Esta mudança abrupta corresponde ao que outras provas já mostravam para os primeiros anos deste século.
Houve um período de vários anos no início dos anos 2000 em que pareceu haver uma grande perda de água dos continentes, como previsto por um modelo climático específico. A questão era: isto aconteceu realmente? Agora sabemos a resposta porque temos medições independentes que são consistentes.
Disse o coautor Professor Clark Wilson, da Universidade do Texas em Austin, à BBC Science Focus.
Entre vários modelos, apenas [um] conseguiu captar este evento dramático. Os desenvolvedores de modelos precisam de avaliar e melhorar a precisão dos seus modelos para melhor projetar as condições climáticas futuras.
Referiu ainda o autor principal, Professor Ki-Weon Seo, da Universidade Nacional de Seul.
– (Re)orientação do eixo da Terra
Os autores concluem que a tendência é impulsionada principalmente por alterações na precipitação, e não por uma evaporação mais rápida.
Isto porque a diminuição da velocidade do vento e o aumento de aerossóis que bloqueiam a luz solar equilibraram os efeitos das temperaturas mais altas.
Este método de cálculo da perda global de água no solo é indireto, mas os resultados são consistentes com o que aprendemos por outros meios.
A frequência de secas agrícolas e ecológicas que, anteriormente, ocorriam uma vez por década, aumentou cerca de 1,7 vezes em comparação com a média de 1850–1990.
Projeta-se que a frequência de secas aumente ainda mais de acordo com vários cenários de aquecimento.