Sem conhecer Brasília nem a Friboi, JBS, ele disse: “Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite.”

Essa citação é frequentemente atribuída a Otto von Bismarck, o estadista prussiano e primeiro chanceler do Império Alemão. Ela reflete a ideia de que os processos envolvidos na criação de leis (e na produção de alimentos processados, como salsichas) são frequentemente complexos, desordenados e, às vezes, desagradáveis, de modo que a maioria das pessoas preferiria não conhecer os detalhes para manter a tranquilidade.

Quanto às leis o que podemos fazer é cumpri-las e paga-las, nada mais. Mas quanto as salsichas podemos fazer algo além do cachorro quente. Veja no rótulo de uma salsicha ‘Seara’ e veja os ingredientes. Não há a quantidade nem a porcentagem, mas há um nome estranho. ‘Carne mecanicamente extraída de aves’, é um dos ingredientes, e pelo gosto, o principal.

Vamos analisar esse ingrediente. Ave é genérico, um pardal ou um pombo são aves. Se você atropela um pombo e passa por cima, será que o resultado seria ‘Carne mecanicamente extraída de aves’? Bismark está certo, deixa para lá e põe a cabeça no travesseiro.

Mas volte no tempo. Bismark morreu em 1898, não havia geladeiras e muito menos congeladores. E no outono de cada ano os criadores abatiam seus animais, gordos depois de um verão com muitos alimentos. Carne depois só no outro outono, como se alimentar então?

O homem já sabia que o sol, para secar, o fumo, para defumar, e o sal, para salgar, os três juntos ou separados, conservavam as carnes. Um pernil, salgado e defumado virava um presunto, que durava anos.

O sol era escasso no outono, já o fumo era farto, as casas eram aquecidas com lenha e o sal era caro, mas a função era nobre, conservar comida. Havia as especiarias, sim, mas essas eram mais raras e caras, mas também eram usadas na conservação das carnes.

Se o produtor de embutidos for honesto não haveria com que se preocupar com a salsicha. Mas os “Ernestos’? Pouca carne e muita esperteza, salsichas custando pouco, e muita porcaria dentro delas, que se dane o consumidor.

Mas a história vai além das salsichas, há uma classe geral que engloba as salsichas, os ‘ultraprocessados’. Lembra das bolachas da vovó? Fuja das bolachas Maria. São ultraprocessadas. Vou reproduzir parte do rótulo, como são os primeiros ingredientes, devem ser os principais: Farinha integral reconstruída de trigo é o primeiro ingrediente! Reconstruída como? E em segundo lugar: farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico. É que no Brasil a lei obriga a adição de folato de ferro, isso é vitamina B9, ácido fólico sintético e ferro, para combater anemias.

Bem fazem mal, mas os ultraprocessados são baratos e matam a fome de muitos pobres, que não tem dinheiro para comprar presunto de Parma, mas podem comer ‘hot dog’ da Seara. E te digo, a fome mata mais do que os que os ultraprocessados, e é mais dolorida.