A RAZÃO DE AUSTRIA NÃO SER UNIFICADA POR BISMARCK
Otto von Bismarck, ao unificar o Império Alemão em 1871, excluiu a Áustria principalmente por razões políticas, culturais e estratégicas. A Áustria, apesar de ter uma população majoritariamente de língua alemã, era muito mais diversa etnicamente e estava envolvida em conflitos internos com minorias que buscavam maior autonomia, o que tornava a inclusão dela no novo império uma escolha arriscada. Eis alguns dos motivos principais:
1) Diversidade étnica e nacionalismo interno: A Áustria-Hungria tinha uma população que falava diversas línguas, como húngaro, tcheco, polonês, croata, romeno e outras. A complexidade étnica, com cerca de 20% de húngaros, 12,5% de tchecos, quase 10% de poloneses, e várias outras minorias, era um problema constante. Bismarck sabia que essa diversidade poderia ameaçar a unidade de qualquer Estado alemão unificado. Em comparação, o Reich alemão, fundado em 1871, era bem mais homogêneo, com 92% de falantes de alemão e uma minoria polonesa de apenas 5%, o que facilitava a manutenção de uma política nacionalista e centralizada.
2) A Questão Alemã: “Pequena Alemanha” vs. “Grande Alemanha”: O projeto de unificação alemã tinha duas visões. A “Grande Alemanha” incluía todos os territórios de língua alemã, como a Áustria, enquanto a “Pequena Alemanha” excluía a Áustria. Bismarck escolheu a “Pequena Alemanha”, liderada pela Prússia, pois acreditava que a inclusão da Áustria traria instabilidade ao novo império e diluiria o poder prussiano, central para seus objetivos.
3) Equilíbrio de Poder na Europa: Bismarck sabia que a inclusão da Áustria no Império Alemão provocaria tensões com outros países europeus, especialmente a Rússia e o Reino Unido, que poderiam temer o fortalecimento da Alemanha. A criação de um império germânico sem a Áustria era uma forma de evitar esses conflitos, equilibrando o poder na Europa e mantendo a paz com os vizinhos.
4) Conflito de liderança e rivalidade com a Áustria: Prússia e Áustria eram potências rivais na Confederação Germânica e competiam pelo domínio dos estados de língua alemã. A Guerra Austro-Prussiana de 1866 foi decisiva para que Bismarck enfraquecesse a influência austríaca e consolidasse a liderança prussiana sobre os estados germânicos. A inclusão da Áustria ameaçaria essa hegemonia prussiana.
5) Estrutura política da Áustria-Hungria: Em 1867, a Áustria passou a ser uma monarquia dual, conhecida como Império Austro-Húngaro, em que o poder era dividido entre austríacos e húngaros. Essa complexa estrutura política tornava a Áustria incompatível com o modelo centralizado que Bismarck imaginava para o Império Alemão.
Assim, ao fundar o Império Alemão com os estados predominantemente de língua alemã e sob a liderança da Prússia, Bismarck criou uma Alemanha mais coesa e homogênea. Esse “Reich” era mais viável política e culturalmente, já que podia manter uma identidade nacional mais forte sem o peso dos conflitos étnicos e culturais que a inclusão da Áustria traria.