Em um pedaço mágico do litoral norte de São Paulo, onde o mar beija a areia com a mesma suavidade de um verso bem escrito, repousa uma casa que já foi o coração pulsante de um império. Não um império qualquer — mas o do Rei. A mansão de Edson Arantes do Nascimento, o nosso eterno Pelé, ainda está lá, cercada por palmeiras silenciosas e pelas lembranças douradas de um tempo que não volta mais.

Construída com imponência na cidade de São Sebastião, a casa parecia saída de um sonho tropical. Vista privilegiada para o oceano Atlântico, piscina de borda infinita antes mesmo desse termo existir, salas amplas onde o som da bossa nova se misturava aos risos de celebridades, políticos, artistas e craques do futebol. Era ali, entre goles de champanhe e passos lentos de dança, que o Rei celebrava a vida.

As noites naquela mansão eram lendárias. Vinham gente do Brasil inteiro, e do mundo também. Vestidos deslumbrantes arrastavam pelos corredores, taças tilintavam sob lustres reluzentes, e Pelé, com seu sorriso largo e carisma único, fazia todos se sentirem parte da sua corte. Era uma casa viva, iluminada por histórias, por conquistas, por afetos.

Hoje, no entanto, tudo virou memória.

A mansão jaz silenciosa, envolta em um manto de abandono. O jardim virou selva. Os salões, agora vazios, guardam o eco de risadas distantes. Nas paredes, o tempo deixou suas marcas: infiltrações, musgo, rachaduras… mas também vestígios de grandeza. Ainda há algo de majestoso naquele lugar, como se a presença de Pelé jamais tivesse partido dali.

Passar diante dos portões enferrujados é como cruzar o limiar entre o passado e o presente. Há quem jure ouvir uma música baixa, talvez um samba antigo, vindo do andar de cima. Há quem diga que, nas noites de lua cheia, as luzes da piscina ainda se acendem — só por um instante — como se a casa também sentisse saudade de sua era dourada.

O palácio do Rei não morreu. Apenas dorme, envolto em lembranças, esperando que alguém o acorde com o carinho e a reverência que merece.

Porque onde Pelé esteve, a eternidade se fez casa.