A EUROPA DIANTE DA GUERRA CIVIL AMERICANA
A Guerra de Secessão, ou Guerra Civil Americana, aconteceu nos Estados Unidos entre os estados do Norte e os estados do Sul, de 1861 a 1865. Esse conflito foi iniciado quando os estados do Sul separaram-se da União e formaram os Estados Confederados da América.
O saldo do conflito foi de 600 mil mortos, marcando a secessão como a maior guerra da história americana.
Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), as grandes potências europeias, como a Rússia, França e Grã-Bretanha, tiveram diferentes posições, interesses e ações em relação ao conflito entre o Norte (União) e o Sul (Confederação). Esses países observaram de perto os eventos nos Estados Unidos, pois o desfecho da guerra poderia afetar seus próprios interesses econômicos e políticos, tanto internamente quanto globalmente. Abaixo, segue uma análise detalhada da postura de cada uma dessas potências:
1. Grã-Bretanha:
A Grã-Bretanha, a principal potência industrial da época, mantinha uma posição ambígua durante a Guerra Civil. Seu maior interesse estava relacionado ao fornecimento de algodão do Sul dos EUA, que era essencial para a sua indústria têxtil. No entanto, a questão da escravidão também era relevante, pois a Grã-Bretanha havia abolido a escravidão em 1833 e era contra a prática em princípio.
. Interesses econômicos: A Grã-Bretanha dependia do algodão sulista para abastecer suas fábricas. Com o início da guerra, houve uma crise de algodão, conhecida como a “fome do algodão”. No entanto, Londres também queria manter boas relações comerciais com o Norte, onde estava o maior mercado consumidor e industrial.
. Ações diplomáticas: O governo britânico, sob o comando de Lord Palmerston, adotou uma política de neutralidade oficial. Contudo, houve momentos de grande tensão entre a Grã-Bretanha e a União, como o Incidente do Trent (1861), em que a Marinha da União interceptou um navio britânico, resultando quase em uma guerra. O governo britânico também considerou reconhecer a Confederação, mas a derrota confederada na Batalha de Antietam (1862) e a Proclamação de Emancipação de Lincoln em 1863 tornaram isso politicamente inviável.
. Ajuda clandestina: Apesar da neutralidade oficial, empresas britânicas construíram navios para os confederados, como o famoso CSS Alabama, que atacou navios da União. Isso causou tensões, e após a guerra, os EUA processaram a Grã-Bretanha em um tribunal internacional, resultando nas Reivindicações do Alabama.
. Além havia um interesse em dividir os EUA, para manter o Canadá sem riscos.
2. França:
A França, sob o imperador Napoleão III, também tinha grandes interesses na Guerra Civil Americana, em especial na expansão de sua influência no hemisfério ocidental.
. Interesses imperiais: Napoleão III estava envolvido no projeto imperialista de colocar o arquiduque austríaco Maximiliano I no trono do México durante a guerra civil americana (1861-1867). Ele via uma América enfraquecida como uma oportunidade de expandir a influência francesa no continente. A fragmentação dos EUA seria favorável para seus planos imperialistas na América Latina.
. Ações diplomáticas: Napoleão III chegou a considerar o reconhecimento diplomático da Confederação e procurou convencer a Grã-Bretanha a se juntar a ele nesse esforço, mas a posição britânica cautelosa impediu um movimento conjunto. Além disso, a guerra não caminhava a favor da Confederação após 1862, o que fez Napoleão hesitar em se envolver ativamente.
. Conclusão da política francesa: Com o avanço das forças da União e o fim da guerra em 1865, Napoleão III abandonou o México e Maximiliano foi executado em 1867. A vitória da União consolidou o poder dos EUA como uma potência hemisférica e limitou os projetos imperialistas europeus na América.
3. Rússia:
A Rússia, sob o czar Alexandre II, foi a potência europeia que mais apoiou os Estados Unidos durante a Guerra Civil, principalmente devido a seus próprios interesses geopolíticos e ideológicos.
Interesses estratégicos: A Rússia e os EUA compartilhavam uma posição contra as intervenções europeias nos assuntos das Américas, especialmente da Grã-Bretanha e da França. Além disso, a Rússia queria prevenir que essas potências europeias apoiassem a Confederação, o que poderia alterar o equilíbrio de poder global.
. Apoio à União: A Rússia foi uma aliada diplomática importante dos EUA durante a guerra. O czar Alexandre II enviou frotas navais russas para Nova York e São Francisco em 1863, como um sinal de apoio à União e como uma demonstração de força contra a Grã-Bretanha e a França, que estavam considerando apoiar a Confederação. Embora a presença dessas frotas tenha sido amplamente simbólica, ela foi interpretada como uma forte mensagem de aliança com o governo de Abraham Lincoln.
. Reformas internas: A Rússia estava passando por um processo de reformas internas, incluindo a abolição da servidão em 1861, o que estabeleceu um paralelo simbólico entre a causa da União contra a escravidão e o próprio esforço da Rússia para modernizar sua sociedade e economia.
– Resumo do Impacto Europeu na Guerra Civil Americana:
Grã-Bretanha e França consideraram apoiar a Confederação, mas suas motivações econômicas e políticas (interesse pelo algodão sulista e pela fraqueza dos EUA) foram ofuscadas pelas questões morais e pelos resultados militares favoráveis à União.
Rússia foi a potência europeia que mais claramente se posicionou ao lado da União, tanto por afinidade ideológica quanto para contrabalançar a influência britânica e francesa.
Nenhuma das grandes potências europeias interveio diretamente no conflito, mas seus interesses moldaram o ambiente diplomático da época.
A guerra teve repercussões globais, e a vitória da União preservou o equilíbrio de poder na América do Norte, mantendo as potências europeias afastadas de intervenções diretas no continente americano.