A VERDADEIRA HISTÓRIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Apesar da imagem moderna e mecanizada que a propaganda nazista cultivou da Wehrmacht — com tanques Panzer cortando as planícies em velocidade relâmpago, aviões Stuka mergulhando com precisão mortal e divisões motorizadas avançando sem parar — a realidade logística por trás do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial era muito mais arcaica do que se costuma imaginar. A Alemanha utilizou, ao longo de toda a guerra, cerca de 2,75 milhões de cavalos, o que fez da Wehrmacht o exército que mais empregou cavalos em toda a Segunda Guerra Mundial, superando inclusive a União Soviética nesse aspecto. Essa dependência surpreendente se deve, em grande parte, à limitação industrial alemã e à própria natureza do terreno das campanhas militares.

A fama das campanhas-relâmpago — a blitzkrieg — obscurece o fato de que a maioria das divisões de infantaria alemãs, especialmente durante a invasão da Polônia em 1939, da França em 1940 e na ofensiva contra a União Soviética em 1941, não era motorizada. Apenas uma fração das divisões (menos de 20%) era realmente equipada com veículos automotores. O restante avançava a pé, com seus equipamentos, munições e suprimentos sendo puxados por cavalos em carroças. Mesmo artilharia leve e média era frequentemente tracionada por cavalos, especialmente em frentes onde o terreno dificultava o uso de caminhões — como nas vastas estepes russas, nas florestas da Bélgica ou nos pântanos da Ucrânia. A imagem icônica de uma coluna Panzer não era a norma, mas sim a exceção cuidadosamente filmada para as câmeras do Ministério da Propaganda.

A escassez de petróleo agravava esse problema. A Alemanha, que não possuía grandes reservas naturais de petróleo, dependia de importações e da produção de combustíveis sintéticos. O Alto Comando alemão priorizava o combustível disponível para as unidades blindadas e aéreas, o que deixava o grosso da tropa relegado à velha força animal. Mesmo em momentos críticos da guerra, como a Batalha de Stalingrado ou a retirada de Kursk, os cavalos continuaram sendo parte essencial da logística — tanto para transporte de munições quanto para evacuação de feridos.

A maioria dos cavalos utilizados eram de raças resistentes, como o Trakehner, famoso por sua força e resistência ao frio, originário da Prússia Oriental. Também eram comuns os Hanoverianos e os Oldenburgs, raças alemãs de porte médio, criadas especialmente para tração leve e uso militar desde o século XIX. Nas frentes orientais, cavalos capturados ou requisitados de civis soviéticos também eram utilizados, muitas vezes em condições brutais. A taxa de perdas era altíssima: estima-se que cerca de 750 mil cavalos alemães morreram durante a guerra, muitos de fome, exaustão, frio extremo ou simplesmente abandonados durante as retiradas apressadas nos momentos mais críticos do conflito.

Nas fotos da ocupação alemã da Bélgica, por exemplo, é comum ver soldados conduzindo carroças com cavalos pelas cidades e estradas rurais, mesmo após a conquista inicial. Isso reflete não apenas a necessidade de mobilidade logística em áreas de ocupação, mas também uma realidade militar em que a tecnologia moderna convivia com práticas que remontavam ao século XIX. Mesmo unidades de elite, como as Waffen-SS, embora muito melhor equipadas, frequentemente usavam cavalos para tarefas secundárias. Ao contrário da imagem de um exército futurista e incontrolável, a Wehrmacht era, em muitos sentidos, uma força híbrida — entre o passado e o futuro — que dependia de seus cavalos tanto quanto de seus tanques para sustentar as campanhas militares que varreram a Europa.