UMA RAZÃO ZOOLÓGICA
Como a mãe águia escolhe o pai de seus filhotes?
Ela não aceita qualquer um. Ela testa.
Primeiro, arranca um galho de uma árvore e sobe com ele até o alto do céu. Lá em cima, começa a voar em círculos.
Muitos machos aparecem, voando ao redor dela, tentando chamar sua atenção.
De repente, ela solta o galho no ar.
Esse é o início da prova.
Um dos machos mergulha rapidamente e agarra o galho antes que ele caia no chão, devolvendo-o com cuidado, de bico a bico.
Ela repete: solta o galho outra vez. E de novo.
Se o mesmo macho consegue pegá-lo todas as vezes, sem errar, ele é o escolhido.
Por quê?
Porque um dia, não será um galho caindo — será o próprio filhote. E ela precisa de um parceiro que nunca o deixe cair.
Depois da escolha, eles constroem juntos o ninho, no alto de um penhasco, usando galhos fortes.
E para forrar o interior, arrancam penas do próprio corpo, criando um abrigo macio e seguro.
Ali, os ovos são colocados.
Quando os filhotes nascem, os pais os protegem com suas asas, alimentam-nos com cuidado, guardam-nos do sol e da chuva.
Eles crescem. Surgem as primeiras penas. Começam a sentir o vento, a esticar as asas.
É quando começa a lição mais difícil.
O pai começa a desmontar o ninho.
Com suas asas, agita os galhos, remove as penas macias — até que o ninho fique apenas com os galhos duros e desconfortáveis.
Os filhotes não entendem.
Onde está o carinho de antes? Onde está a comida?
A mãe, então, pousa em uma rocha próxima, com um peixe fresco. Come devagar, fora do alcance deles.
Eles choram, imploram — mas ninguém os atende.
E é aí que começa a mudança.
Um filhote se arrasta, sai do ninho, escorrega… e cai.
Mas antes de tocar o chão, o pai — aquele que um dia pegou o galho — mergulha no ar e o segura nas costas.
Leva-o de volta ao ninho.
E tudo recomeça.
Caem. São salvos. Mais uma vez.
Até que um dia, durante a queda, um deles abre as asas.
Sente o vento.
E voa.
Então, os pais o conduzem até os rios.
Não o alimentam mais.
Ensinam-no a pescar, a sobreviver por si mesmo.
É assim que as águias educam: com amor, sim, mas também com firmeza, coragem e sabedoria.
A mãe não escolheu um macho qualquer — escolheu aquele que jamais deixaria seus filhos caírem.
Porque os filhotes nasceram para voar.
E não para viver para sempre no conforto do ninho.
Talvez nós, humanos, também possamos aprender com as águias:
Sobre amor, sobre criar com propósito, e sobre a beleza de ensinar alguém a alçar voo.